TAXONOMIA POPULAR DE FUNGOS POR RIBEIRINHOS DA REGIÃO OESTE DO PARÁ
Abstract
Estudos etnomicológicos das décadas de 60 e 70 relataram que grupos indígenas, rurais e ribeirinhos utilizavam um sistema próprio para nomear os fungos. Neste estudo, registra-se o primeiro relato de uso de um sistema de classificação folclórico de fungos macroscópicos por ribeirinhos no Oeste do Pará e sua similaridade com o atual sistema de classificação micológico. Coletas de macrofungos foram realizadas entre os meses de março e junho de 2016 nas Comunidades Maripá e Vila Franca, ambas na Reserva Extrativista (RESEX) Tapajós-Arapiuns - PA, com o auxilio dos respectivos ribeirinhos. Durante as caminhadas, foi observado que os mesmos atribuíam o nome Urupê para todos os fungos macroscópicos, mas algumas espécies eram diferenciadas com um segundo nome com base em aspectos morfológicos, como ainda fazem os especialistas. O gênero Phallus Junius ex L., foi o que mais chamou atenção, pois os moradores de Vila Franca o identificam como Urupê Taja de cobra devido ao formato da estrutura de sustentação do fungo. Contudo, os comunitários de Maripá, identificam esse gênero como Urupê Véu de noiva por considerar relevante a estrutura que lembra o véu que cobre a noiva antes do casamento. Assim, Reino Urupê; gênero Taja de cobra e Reino Urupê; gênero Véu de noiva têm o mesmo valor taxonômico que Reino Fungi; gênero Phallus. Relatos como este demonstram a importância de se valorizar o conhecimento tradicional de povos ribeirinhos da Amazônia, relatando-se pioneiramente um sistema taxonômico morfológico próprio para os fungos macroscópicos desenvolvido por ribeirinhos no Oeste do Pará.
Palavras-chave: etnomicologia; fungos; povos tradicionais; sistema de classificação taxonômico.