O DIREITO À EDUCAÇÃO DO CAMPO NO MUNICÍPIO DE GUANAMBI, BAHIA (BRASIL): implicações do deslocamento das crianças para a escola nucleada na cidade
DOI:
https://doi.org/10.24065/re.v15i1.2745Palavras-chave:
Direito à educação, Crianças do campo, Deslocamento campo-cidadeResumo
Este artigo discute o direito à Educação do Campo e analisa as implicações do deslocamento de crianças de 4 a 10 anos de idade, nos percursos campo-cidade e casa-escola-casa no município de Guanambi, Bahia (Brasil), resultado de um processo de nucleação extracampo. A análise apresenta um recorte de uma pesquisa de doutorado, que mobiliza os Estudos Sociais da Infância e da Educação do Campo, com objetivo de compreender como as crianças experienciam o deslocamento campo-cidade para acessar a escola nucleada no meio urbano. A metodologia do estudo é de abordagem qualitativa e perspectiva etnográfica com crianças de uma comunidade rural. A pesquisa de campo foi registrada e sistematizada com base em observação participante, diário de campo, fotografias, conversas com as crianças durante o trajeto, sobretudo dentro do ônibus escolar. O texto problematiza a negação do direito à educação das crianças no contexto pesquisado a partir do processo de fechamento das escolas no campo, da nucleação da escola na cidade-sede e do deslocamento diário das crianças. Os resultados evidenciam que os impactos negativos identificados estão relacionados ao sono, cansaço, sede, saudades da família, ausência de banheiro no ônibus, percalços com o transporte escolar, com as condições do clima e das estradas. Assim, o trabalho denuncia a negação do direito à educação e contribui para refletir sobre a construção de uma Política da educação das crianças do campo na perspectiva da efetivação do direito de estudarem perto de suas casas, respeitando suas vivências, tempos e espaços de aprendizagem.
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